A seca histórica do rio Madeira tem transformado a realidade de comunidades ribeirinhas em todo o estado. Em Porto Velho, a comunidade de Ressaca, localizada no Baixo Madeira, vive em isolamento. Os moradores precisam percorrer cerca de 2 quilômetros para chegar até a margem do rio, que antes passava na porta das casas.
Seca provoca o surgimento de bancos de areia em comunidade ribeirinha de Porto Velho — Foto: Foto: Lucas Bezerra / Reprodução
A situação preocupa os moradores que estão enfrentando grandes dificuldades de locomoção. Lucas Bezerra, um pescador e morador da comunidade há mais de 15 anos, relata que a seca começou em julho, quando as margens do rio começaram a desaparecer e a “praia” surgiu.
“A gente tá muito longe da margem do rio, dá quase 2km até lá e nosso único meio de transporte é a voadeira. Tá difícil demais e tá ficando cada vez mais preocupante porque se secar mais, nem barco vai passar”, explica.
Segundo a Defesa Civil, a seca afeta principalmente as pessoas que residem nas proximidades do rio. Em Porto Velho, as comunidades ribeirinhas são divididas em três áreas: Alto, Médio e Baixo Madeira. Na comunidade de Ressaca, no Baixo Madeira, existem aproximadamente 15 famílias.
O morador ainda relata que as crianças precisam acordar mais cedo do que o normal para ir à escola e enfrentar a caminhada pela areia até a margem do rio. O retorno para casa é mais desafiadora ainda devido às altas temperaturas, já que precisam caminhar cerca de 30 minutos sob o sol escaldante.
Outra dificuldade enfrentada pela comunidade está relacionada à alimentação. Antes, Lucas costumava pescar o suficiente para sustentar sua família por uma semana, mas agora só consegue trazer peixes para uma refeição.
“Precisa ir para muito longe de casa para chegar em lago que tem peixe, e as vezes quando a gente acha, é pouco. Antes eu saia de casa para pescar e dava para se manter a semana toda. Agora a gente vai e só pega para almoço, isso quando tem”, ressalta o morador.
Além disso, há pessoas na comunidade que não conseguem mais sair de casa para chegar à margem, como os idosos, que dependem da ajuda de outros moradores para garantir o abastecimento de alimentos em suas casas.
Outras 15 comunidades ribeirinhas também foram afetadas pela seca do rio Madeira e estão sem acesso à água. Segundo a Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia (Caerd), responsável pelo abastecimento de água em Porto Velho, cerca de 15 mil pessoas estão sem água por causa da seca.
Seca histórica
Nas últimas semanas, a seca que atingiu o rio Madeira se tornou histórica. A Defesa Civil informou que registrou o nível abaixo de 1,20 metro. Caso o nível não suba nos próximos dias, a capital deve entrar em estado de emergência.
Na quinta-feira (5), o nível do rio baixou mais de 10 centímetros em 24 horas e ficou abaixo de 1,20 metro pela primeira vez na história, segundo a Defesa Civil Municipal.
Seca histórica do rio Madeira revela paisagem semelhante a deserto em Porto Velho (RO) — Foto: Emily Costa/ G1 RO
Desde agosto, o nível do rio baixou rapidamente. Em menos de uma semana, entre o fim de agosto e início de setembro, o nível do Madeira recuou mais de um metro. Na época, a Defesa Civil já previa uma seca histórica.
Fonte: Por Emily Costa, g1 RO